Professor de Informática ou Programador?

Porque haveria um jovem licenciado de preferir ouvir “olá stor!” logo pela manhã quando pode ficar sossegado no escritório, agarrado ao teclado do computador, olhos fixos no ecrã e bolsos bem mais recheados? É isso que lhe vou tentar explicar neste artigo em espécie de alerta vermelho para a instabilidade!

Entre aposentações, desistências e decréscimos de alunos nos cursos superiores de educação, Portugal está a enfrentar uma crise de falta de professores… sem fim à vista! Neste momento, cerca de 30.000 alunos permanecem sem todos os professores atribuídos e nos próximos anos, dezenas de milhares de docentes contam sair do sistema de ensino, seja porque vão desistir da carreira ou render-se à reforma. E até aqui tudo bem, desde que a percentagem de licenciados nos cursos de educação fosse satisfatória. Mas acontece precisamente o contrário! De há 20 anos a esta parte, caiu 70% e só na última década, registou um decréscimo – de 8,6% em 2011 para 5% em 2020 – colocando Portugal abaixo da média da OCDE e da União Europeia.

Uma classe envelhecida…

De acordo com o relatório “Estado da Educação de 2020”, que retrata o sistema educativo português no ano letivo de 2019/2020, mais de metade dos professores do pré-escolar ao secundário já soprou 50 velas de uma só vez. Resultado? Nos próximos 7 anos, o ensino público poderá perder por aposentação, 19.479 docentes. Pior! Aos professores que se vão reformar, temos de juntar os cerca de 10.000 que vão desistir da profissão (a manter-se a tendência das duas últimas duas décadas).

Não há novos professores para os substituir?

Parece que não… Os jovens não se sentem aliciados por esta profissão, tanto que a percentagem de docentes com menos de 30 anos passou de 7,4% para 1,6% na última década. Conclusão? Num futuro próximo, Portugal vai ter poucos profissionais habilitados para o ensino.

Professores de Informática, precisam-se!

As notícias sobre o ensino da Informática em particular, não são mais animadoras. Apesar de na primeira fase de colocações para o ano letivo 2021/2022 “só” terem ficado a faltar pouco mais de 200 docentes no grupo de Informática, o número de professores é insuficiente para responder à procura. E parte dos docentes que concorrem a um horário, só têm as habilitações mínimas e não a formação necessária para lecionar a disciplina de TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) obrigatória do 5º ao 9º ano de escolaridade; as disciplinas opcionais de Informática do ensino regular; as disciplinas dos diversos cursos profissionais de Informática ou as disciplinas dos Cursos de Educação e Formação (CEF) do ensino básico.

A falta de professores de Informática é mais grave em Lisboa e no Algarve, muito devido ao valor elevado das rendas, que leva os profissionais a desistirem de trabalhar no ensino e longe de casa.

Profissão de professor de Informática (também) é desvalorizada

Sim, a profissão de professor de Informática também é desvalorizada e pouco atraente para os jovens que entendem que trabalhar numa empresa traz mais vantagens. E ninguém os pode condenar porque, efetivamente e ao fim de algum tempo, conseguem progredir e ganhar no mercado empresarial muito mais do que no ensino público. Assim, não é difícil de imaginar um jovem licenciado em Ciências da Informação, Engenharia de Informática ou Comunicações e Multimédia (entre outros cursos que dão habilitação própria para a docência), a perceber que em vez de se candidatar a um mestrado em ensino da Informática pode enviar o seu currículo para empresas e enveredar por uma solução mais eficaz e estável para garantir o seu ganha pão. Mas com essa decisão vencedora, que não morre solteira num caso em particular, leva a que outros jovens, estudantes do ensino básico e secundário, fiquem a perder. E isso porque a falta de estratégias para cativar professores de Informática acentua a falta de competências na área digital dos alunos. Apesar de terem nascido rodeados de tecnologia, o certo é que apenas 20% dos alunos portugueses com 13 e 14 anos, estão preparados para trabalhar de forma independente com computadores, de acordo com um relatório do International Computer and Information Literacy (ICILS).

Porque é que os professores estão desiludidos e desmotivados?

Se se recorda do tempo em que os professores eram respeitados, tinham um estatuto social elevado, horários de trabalho flexíveis e terminavam as carreiras com bons ordenados, é natural que queira conhecer as causas desta desilusão e desmotivação generalizada. Hoje em dia os professores queixam-se amiúde da perda de autoridade, humilhação por alunos, desautorização por pais, atropelos por Encarregados de Educação, excesso de burocracia, dificuldade de progressão na carreira e colocações instáveis. Quem nunca ouviu falar de um professor que há anos se vê forçado a trocar de escola e de região e a destroçar a sua vida familiar sem qualquer tipo de apoio logístico?
Além disso, os professores debatem-se com o número elevado de alunos por turma, com os horários sobrecarregados, conteúdos programáticos extensos, planos de recuperação, aulas de apoio e reuniões, reuniões, reuniões e a seguir, atas e relatórios para apresentar… em novas reuniões!

O vencimento não compensa?

Sinceramente? Não! Voltando ao exemplo do jovem que não quer ser professor de Informática, tenho a dizer em sua defesa que um professor contratado com 20 anos de serviço ganha menos do que um Programador de nível médio ou um gestor júnior de marketing digital. Para ser mais específico, o vencimento base de um docente contratado é de 1.536,90€: sem contar com o subsídio de refeição (4,77€ dia) e dependendo do escalão do IRS, o vencimento líquido situa-se entre os 1.049,70€ (para um docente sem filhos) e 1.189,56€ (para um docente casado e com dois filhos). Bom, é claro que também a remuneração de um Técnico de Informática pode começar com um ordenado base baixo na ordem dos 800€ e ter como salário médio 1.600€, mas este tipo de profissional pode chegar aos 2.400€ por mês em alguns anos, sendo que o salário máximo de um Programador ou Engenheiro Informático pode facilmente superar os 4.000€/mês.

Como resolver o problema da falta de professores?

Simples! Com a contração de 34,5 mil professores até 2030/2031! Pelo menos assim o prevê um estudo da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Só que, não obstante os portugueses considerarem a profissão de professor confiável e respeitável (e só ultrapassada pelos médicos e bombeiros), poucos pensam segui-la! E porquê? Porque não é vista como uma carreira atrativa! Os dados de um estudo feito pela GFK e apresentados na última edição do Global Teacher Prize são claros! Convencidos que a profissão de professor é desgastante e mal paga, os nossos jovens estudantes não pensam segui-la: apenas 1% dos inquiridos, quer ser professor. E por ser pouco aliciante, esta profissão está a colocar ao serviço, profissionais que “sobram” de outras profissões. Como inverter a situação? É uma questão de regressar ao paradigma anterior, reconhecer e elogiar os professores atuais para conquistar novos docentes para a profissão. Desde já, devolver o tempo de serviço, rever o salário ou passar aos quadros quem de direito e atribuir subsídios para deslocações a quem tem mesmo de lecionar fora da zona de residência. E depois é uma questão de acompanhar a realidade, fornecendo aos professores as indicações necessárias para que sigam por novos e melhores caminhos para responder às necessidades dos jovens estudantes com propostas inovadoras, mais humanizadas e mais inclusivas. E por fim há que lembrar uma situação: se muitos profissionais não se incomodam por trabalhar 8 horas por dia em frente ao computador em total isolamento social, outros podem ser mais felizes se tiverem a oportunidade de se envolverem com diferentes pessoas a quem podem e devem passar competências curriculares e emocionais!

Eu sou o Luís Horta e vivo o melhor dos dois mundos! Sou professor de Informática há 27 anos (e com muito gosto!) e gerente da agência de marketing digital Webfarus que conta, na sua folha de serviço, com mais de 700 websites criados para fomentar a rentabilidade de empresas de diferentes setores de atividade.

Artigo publicado no Jornal Postal https://postal.pt/opiniao/professor-de-informatica-ou-programador
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Sobre Luís Horta

Luis é o fundador e CEO da Webfarus. É professor no Ensino Público Português há mais de 25 anos. Ajudou a criar e a desenvolver mais de 700 negócios em diferentes áreas, ao longo da sua carreira.

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