O que quer ser quando for grande?

Professor? Engenheiro? Polícia? Ator? O que quer ser quando for grande?
Ops… Já é grande, não é verdade? E já sabe que os sonhos de infância nem sempre se tornam realidade. Mas também sabe que se seguir por um caminho que não faz sentido, pode fazer marcha-atrás ou procurar por um atalho que termine numa atividade mais atrativa, reconhecida e bem paga. A dificuldade poderá ser encontrá-la em Portugal! Pessimista, eu? Não! Face ao panorama nacional, até posso ser considerado um entusiasta que vai tentar ajudá-lo a responder a algumas perguntas…

Estamos empregados?

A caminhar para lá! Portugal tem visto a sua taxa de desemprego a diminuir. Foi dos países onde a recuperação do emprego foi mais acentuada quando comparada com o período pré-pandemia (dados OCDE). Mas os resultados das medidas adotadas pelo Governo durante o surto não duram eternamente e os empregos que contribuíram para a subida da taxa de empregabilidade nem sempre (quase nunca!) oferecem contratos sem termo. Aliás, no último trimestre foi alcançado um novo máximo de trabalhadores com contrato sem termo (mais 196 mil face a 2021), sendo os jovens os mais afetados. Outro dado importante! Portugal é o terceiro país europeu que mais recorre ao trabalho temporário, a seguir à Espanha e Polónia, com 1 em cada 5 trabalhadores com contrato a prazo (dados Pordata).

Sabe qual é o retrato do trabalhador português?

Homem entre os 45 e 54 anos, com educação até ao Ensino Básico (3º ciclo), a trabalhar no privado, no setor dos serviços, por conta de outrem com um contrato de trabalho sem termo (dados INE).

Ganhamos bem?

Sim, se considerarmos que um rendimento médio anual bruto de 9.665€ (dados INE) é satisfatório, ganhamos bem! Mas como ninguém se alegra com este valor, há que concluir que os portugueses têm os rendimentos mais baixos da União Europeia.

Entre 2011 e 2019 o salário médio dos portugueses aumentou apenas para os trabalhadores com o Ensino Básico (na ordem dos 5%), e só devido ao aumento do salário mínimo por decreto-lei!

Quanto gasta uma empresa com um trabalhador?

Em média, as PME gastam cerca de 1.000€ mensais por trabalhador (dados Pordata) e as grandes empresas, 2.000€. Mas não se entusiasme porque os gastos das grandes empresas têm vindo a decrescer, inclusive porque os grandes grupos económicos são ínfimos face à quantidade de PMEs, muitas com potencial para se transformarem em grandes empresas, mas pouca vontade de sair do rame-rame para começar a lucrar… mas também deixar de pagar salários mínimos e começar a responder a tributações bem mais elevadas! Ora, isto potencia uma cultura onde parece que existe alguma “vergonha” em ganhar dinheiro, com as PMEs a representarem 99,9% das empresas em Portugal e a empregarem 78% do pessoal ao serviço (dados Pordata).

Como contrariar este cenário? Deixando de alimentar a mediocridade ou por outras palavras, adotando uma cultura que valorize a competitividade acima de tudo e que coloque o desenvolvimento e crescimento económico à frente dos valores salariais, sem medo de pagar mais!

Somos produtivos?

Também parece que não! A produtividade média em Portugal (grosso modo calculada de acordo com a contribuição de cada trabalhador para o PIB do seu país) afasta-se dos padrões europeus: Portugal é o sétimo país da União Europeia com menor produtividade por hora de trabalho (dados Pordata). E a explicação é óbvia! Se os salários não podem subir, a produtividade também não consegue alcançar os melhores resultados! E se fossem só os salários… De entre os principais motivos associados ao bom desempenho de outros trabalhadores europeus (face ao nosso “mau” desempenho), surgem itens como o investimento em formação e as diferentes condições de tributação que beneficiam empregadores e empregados.

Somos competitivos?

Se houvesse competitividade sem produtividade! Mas tendo em conta que a produtividade condiciona a competitividade, Portugal tem uma economia periclitante que condiciona o aumento dos padrões de vida da população.

De quem é a culpa?

Será a mão de obra a culpada pela baixa de produtividade e competitividade? E se sim, reparte as culpas com as empresas ou senta-se no banco dos réus sem companhia? A resposta passa claramente por todos os lados (culpados): trabalhadores, empregadores, processos de produção, investimentos, financiamentos e, claro, condições que o Estado cria para a competitividade.

Somos talentosos?

Tem jeito para os números ou para as letras? Esqueça! Os empregadores portugueses continuam a dizer que têm dificuldade em encontrar os candidatos certos para preencher as vagas de trabalho (dados ManpowerGroup). Queixam-se da falta de trabalhadores qualificados, tanto que Portugal parece ser o segundo país do mundo onde os empregadores têm mais dificuldade na contratação (dados Talent Shortage Survey 2022/ManpowerGroup).

Quais os setores onde sentem maiores dificuldades? Banca, finanças, seguros e imobiliário, comércio grossista e retalhista, atividades logísticas, indústria, restauração e hotelaria, construção, tecnologias da informação, telecomunicações e comunicação. No fundo mais valeria perguntarmos quais são os setores que não têm dificuldade em encontrar talentos, não é verdade?

E mais uma vez… de quem é a culpa?

Dos trabalhadores? Ou dos empregadores que não são capazes de criar propostas de valor alinhadas com as preferências dos profissionais, com modelos de trabalho mais flexíveis, investimentos em formação e aumentos salariais?

Quais são as funções mais procuradas em Portugal?

Funções de IT e Data são as mais procuradas pelas empresas portuguesas (dados ManpowerGroup), mas não são as únicas! Também há falta de profissionais qualificados na indústria e produção, operação e logística, vendas e marketing e recursos humanos.

E a crise na hotelaria?

Ainda bem que pergunta porque não faria sentido terminar este artigo, sem falar na crise na hotelaria no Algarve e no resto do país.

Poderemos culpar a pandemia? Bom, é verdade que o novo coronavírus transferiu muitos profissionais da hotelaria, mas a elevada carga de trabalho e falta de estabilidade não entusiasmam ninguém. A par, o envelhecimento demográfico e a emigração, levaram muitos trabalhadores até outras paragens.

Em suma, só no terceiro trimestre do ano passado os setores de alojamento, restauração e similares registaram um decréscimo de 35,7 mil pessoas face ao mesmo período de 2020 (dados INE). E se a pós-pandemia trazia alguma esperança, aos dias de hoje percebemos que foi por água abaixo… neste momento a escassez é muito grande e está a pôr em causa a retoma esperada com o acréscimo de turistas.

De quem é a culpa?

Da falta de turistas é que não! Mas talvez a falta de propostas do Governo no sentido da valorização e dignificação das profissões do turismo, acentue esta situação.

Somos felizes?

Ena! Finalmente tenho uma boa noticia para lhe dar! Podemos estar desempregados, ganhar o salário mínimo, ser considerados pouco talentosos e pouco produtivos, mas… somos felizes! A maioria dos portugueses diz que se sente feliz (dados Observatório da Sociedade Portuguesa, da Universidade Católica em Lisboa).
Touché!

Artigo publicado no Jornal Postal https://postal.pt/opiniao/o-que-quer-ser-quando-for-grande/
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Sobre Luís Horta

Luis é o fundador e CEO da Webfarus. É professor no Ensino Público Português há mais de 25 anos. Ajudou a criar e a desenvolver mais de 700 negócios em diferentes áreas, ao longo da sua carreira.

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