(re)Pensar o ensino da Informática na escola pública

Curso de Informática? Não há! Curso Tecnológico de Informática? Já não existe! Atualmente, apenas estão disponíveis na oferta educativa do Ensino Básico e Ensino Secundário geral, duas disciplinas de Informática.

 

Ena! O mercado das Tecnologias da Informação (TI) está em alta em Portugal! É das áreas onde há maior procura por profissionais e, ao mesmo tempo, é das áreas que… mais dificuldade têm em encontrar talentos?! Oh, não!

 

Bem sei que existem outras atividades em ascensão e também com falta de profissionais qualificados, mas neste artigo permitam-me defender a minha dama: a Informática. E explicar que em Portugal, com o mercado de IT cada vez mais dinâmico, a acolher a cada dia que passa mais empresas nacionais, internacionais e multinacionais com grande capacidade financeira, é urgente repensar o ensino da Informática na escola pública.

Informática no Ensino Básico e Ensino Secundário

Curso de Informática? Não há! Curso Tecnológico de Informática? Já não existe! Atualmente, apenas estão disponíveis na oferta educativa do Ensino Básico e Ensino Secundário geral, duas disciplinas de Informática.

 

Disciplina de TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação), lecionada uma hora de quando em vez no Ensino Básico, do 5º ao 9º ano. Disciplina de Aplicações Informáticas (opcional), lecionada apenas no 12º ano de escolaridade nos cursos de Ciências e Tecnologias, Ciências Socioeconómicas, Línguas e Humanidades e Artes Visuais.


Resultado? O Rodrigo (por exemplo!) chega ao 9º ano e decide continuar no ensino regular porque quer prosseguir estudos e entrar para a universidade. Põe de parte as escolas profissionais e inscreve-se num dos quatro Cursos Científico-Humanísticos possíveis: Ciências e Tecnologias, Ciências Socioeconómicas, Línguas e Humanidades e Artes Visuais. O que lhe acontece a seguir? Independentemente do curso que escolher, no 10º ano não tem Informática. No 11º ano não tem Informática. E finalmente, no 12º ano tem a hipótese de escolher a disciplina de Aplicações Informáticas. Em tão pouco tempo, que oportunidade terá o Rodrigo de aprender, por exemplo, a programar?

 

Por muito interessado que seja este aluno e por muito competente que seja o seu professor, a verdade é que isso de transformar instruções lógicas em códigos com o objetivo de executar determinadas sequências, criando um programa ou um software, é bastante difícil e moroso!

 

É claro que o Rodrigo (boa sorte para ti, rapaz!) poderá aprender a programar nos três ou quatro anos que vai passar na universidade, mas sem as bases a qualificação é mais deficiente. E isso leva-me de novo ao problema inicial: a falta de programadores em Portugal, quando a oferta a nível de Ensino Superior público e privado é inversamente proporcional. Ora, a resolução do problema é capaz de passar, precisamente, pelo ensino intermédio…

 

Informática na ótica do utilizador é suficiente?

Não! Neste momento, saber o básico de Informática é tão importante quanto saber ler e escrever. Mas a questão é pertinente para explicar que, efetivamente, o aluno aprende, dentro e fora da escola, a Informática na ótica do utilizador. Mas será que na aula, quando escreve um trabalho em word, pensa no programador por detrás do software que lhe permite mudar o tipo e tamanho de letra? Pensa na pessoa ou grupo de pessoas que conseguiu transformar as instruções de formatação de texto em código?

 

E será que fora da aula, quando pega no seu smartphone para fazer scroll pelo feed do Instagram, pensa no programador que criou a aplicação que torna possível o acesso à rede através de equipamentos móveis? Hum… Não, não pensa. Mas apenas porque não tem, no Ensino Secundário geral público, a hipótese de crescer e fomentar o raciocínio lógico e análise critica na Informática.

 

Não ponho em causa o futuro do Rodrigo. Acredito que se vai transformar num programador front-end ou back-end fantástico! Especializar-se em segurança em rede, comunicação de dados, arquitetura de computadores, manutenção de hardware, desenvolvimento de aplicações ou criação de sites, entre tantas outras opções. Mas por agora, sei que se limita a desenvolver um rol de atividades com base em programas e aplicativos que (por magia) descarregou para o telefone e para o computador.

 

Se a insuficiência de disciplinas de Informática no Ensino Básico e Ensino Secundário for, entretanto, colmatada, daqui a uns anos, o Rodrigo vai preencher uma vaga de emprego. E vai contrariar esta tendência de falta de profissionais qualificados e importação de talentos do estrangeiro. Por enquanto, a este e a outros alunos e professores, resta a hipótese de se juntarem ao grupo que entende que é fundamental investir num ensino da Informática abrangente, moderno, atualizado e ajustado ao mercado de trabalho. Ctrl + C | Ctrl + V nisso!

Artigo publicado no Jornal Diário Online, Região Sul
https://regiao-sul.pt/2021/12/01/opiniao/repensar-o-ensino-da-informatica-na-escola-publica/561378

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Sobre Luís Horta

Luis é o fundador e CEO da Webfarus. É professor no Ensino Público Português há mais de 25 anos. Ajudou a criar e a desenvolver mais de 700 negócios em diferentes áreas, ao longo da sua carreira.

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